O futuro do Metrô do Recife - que sofre com um sucateamento predatório e um déficit de custeio anual de R$ 300 milhões - passa, antes de mais nada, pelas mãos do governo de Pernambuco. Mesmo que os prefeitos da Região Metropolitana do Recife queiram colaborar com a recuperação do sistema terão que estar sempre à espera da decisão política do governo do Estado.
Essa foi a principal conclusão a que chegaram os especialistas que participaram de um debate na Rádio Jornal, nesta terça-feira (29/8), para discutir o papel das prefeituras do Grande Recife na crise enfrentada pelo metrô. Participaram o engenheiro civil, professor da UFPE e Unicap, e integrante do Comitê Tecnológico Permanente do Crea-PE, Maurício Pina, e o engenheiro civil, especialista em mobilidade urbana, e presidente do Instituto de Trânsito e Mobilidade Sustentável (ITMS), Ivan Cunha.
“De fato, em primeiro lugar é fundamental e essencial que o governo de Pernambuco decida se quer ou não receber o Metrô do Recife das mãos do governo federal. Em quais condições e o que será feito com o sistema em seguida são questões que, sem dúvida, precisam ser discutidas. Mas, o primeiro passo é o Estado aceitar ou não o metrô. Sem essa definição, o sistema seguirá sob gestão do governo federal”, alertou Maurício Pina.
“É com muita tristeza que vemos a situação em que se encontra o Metrô do Recife, que há 38 anos, quando criado, foi referência de operação e limpeza no País, e agora está na iminência de enfrentar uma paralisação técnica. Nosso temor é ver uma tragédia acontecer devido à situação, sucateado e sendo canibalizado, que é o que vem acontecendo com os trens que não conseguem mais operar e têm peças retiradas para serem usadas nos que ainda rodam”, disse Maurício Pina.
Ivan Cunha seguiu a mesma lógica, destacando ser impossível conceber o transporte público do Grande Recife sem o metrô. “Embora o sistema seja muito periférico e não corte a RMR porque foi uma adaptação das linhas férreas existentes, o que exigiu uma alimentação dos ônibus, é impossível pensar o SEI (Sistema Estrutural Integrado) sem o metrô. Por isso a vontade política de recuperar e ampliar o sistema é o primeiro passo”, afirmou.
Na avaliação de Maurício Pina, o Metrô do Recife deveria ter a mesma mobilização política, administrativa e social que foi feita com a Transnordestina para retomar o trecho que atende ao Porto de Suape, no Grande Recife. “O sistema metropolitano é ainda mais importante para o transporte da RMR, na minha opinião. E todos deveriam se unir a favor dele. Agora, é fundamental que toda a discussão tenha o passageiro como principal ponto.
A política partidária precisa ser deixada de lado e os prefeitos da capital e da Região Metropolitana se unirem ao Estado nessa discussão”, defendeu. O Metrô do Recife é metropolitano e os quase 200 mil passageiros que os utilizam diariamente são moradores da capital e do Grande Recife. Principalmente da capital pernambucana, para onde mais de 80% dos deslocamentos urbanos da região se dirigem.